O Poeta Quer Falar - II
Poesia: Humberto Fonseca
O poeta quer falar;
Desde a poesia passada, que foi escrita, mas não foi em seu ver vívida.
O poeta quer falar;
Que sentiu o que disse, e disse o que sentiu.
O poeta quer falar;
Dos alvoroços e das esperas, para dizer o que sabe.
O poeta quer falar;
Das revoltas, reviravoltas, do que lhe faz sonhar.
O poeta quer falar;
Que já não sente dores, não cultiva flores, mas sabe observar.
O poeta quer falar;
Da áurea da hora, das esferas entre alvorada e aurora, fauna e da flora, dos instintos naturais que lhe fazem calar, das falácias, dos critérios, das humildades nos barracos, de seu povo que não sabe quem é mas consegue o respeitar.
O poeta quer falar;
Das guerras pessoais, intrapessoais, intelectuais, e da burrice que lhe fez escrivinhar.
O poeta quer falar;
Dos combates vividos, corações partidos, das famílias a chorar.
O poeta quer falar;
Dos tiros ouvidos, nas batalhas sangrentas, de seus rebentos e torturas, de suas armas a orar.
O poeta quer falar;
Dos corpos que tombaram, dos presos que ficaram, no sonho de sua liberdade esperar.
O poeta quer falar;
De seus serviços sem inteligência, de sua ignorância e leniência, da prepotência dos poderes quebrados, de suas flechas, seus arcos, das grades sem espaço, dos corpos partidos cruzados, das forças que o fizeram levantar.
O poeta quer falar;
De seu amor a Deus, dos respeito aos próximos e aos meus, da coragem de lutar pelo que ganhou, da coragem de lutar pelo que perdeu.
O poeta quer falar;
No remoto precipício de suas falas ao luar.
O poeta quer falar;
Que sofrimento é sustento, e quem não sofreu ainda o verá.
O poeta quer falar;
De suas prosas, duetos, serenatas, das canções que ao ouvir e cantar o fizeram calar.
O poeta quer falar;
De lembranças de agora e antigas, que parecem ativas, mas os passados cuidaram de apagar.
O poeta quer falar;
Desse novo velho tempo, desse novo velho mundo, das aflições que lhe fizeram inspirar.
O poeta quer falar;
Fazer compreender, entender, questionar...
Pois o poeta sabe,
Que ser poeta,
É não ter nada pra falar.
Mesmo assim,
O poeta quer falar.
Humberto Fonseca
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