As vozes das
periferias atravessaram as fronteiras enigmáticas dos sentidos e principalmente
a territorialidade no espaço geográfico brasileiro, a criação que se conduz
mediante aos espaços memoriais das comunidades traduzem simbolicamente as
diversidades e interações através da
história contada pelos seus próprios personagens, ao traduzir suas referências,
temos a memória marcada por momentos onde as nossas tradições, conhecimentos, "registros imemoriais das
vivências", conseguem expor diante os tempos as vitórias e derrotas,
as construções intelectuais, sendo estas de certa maneira a amplitude dos
nossos constrangimentos, preconceitos, as
revoltas de nossas consciências, pois, mesmo que populações não possam
ainda ter adquirido suas vozes questionadoras, representantes da memória social
da qual tentaremos aqui no texto colocar a questão de acessibilidade, não falo
como uma propriedade de independência, já que estamos na utilidade de acessibilidade
e seus multiusos, "estamos fadados
de memórias políticas", que de certa maneira objetivaram realidades e
mudanças institucionais, mas, não trouxeram ao passar dos anos as mudanças das
quais as minorias e atores das mudanças sociais estão representando com seus
entendimentos e lutas, diante da
construção desse diálogo sociológico que parece esquecido pela história
brasileira ao passar dos anos.
É preciso conhecer as
periferias e suas nuances com seus historiadores, irei trabalhar com o Hip Hop como linguagem
cultural, artística, movimento criado para difundir informação, sendo esta capaz
de integrar os seus elementos distintos,
porta voz de uma imagem da memória
territorial geográfica, por relacionar a as hipóteses dedutivas de "tese-antítese-síntese" exemplificada
dos lugares, por descrever as ruas, bairros, cidades, a população, os ritos de
passagem, as fundações, a visão particular de setores e instituições, sejam
elas privadas, governamentais, o antes e depois de espaços que constituem populações
que não tem voz ativa, ou não tinham, temos com o passar do tempo, as linguagens artísticas capacitando as
verdadeiras histórias das comunidades.
Assim como a
literatura pode trazer os versos, o cinema as imagens, a fotografia o instante
do olhar, as artes plásticas as diversas relações e conceitos artísticos, a
música quando é representada pelo rap vem explicitamente difundida de "geografia, geopolítica, geografia
crítica, a ciência política e principalmente analítica", o hip hop com
seu "ritm and poetry", é uma
cultura que nasceu com todas as linguagens urbanas e diferenças sociais, que encoraja
a simplicidade urbana, podendo ser traduzida com os antigos costumes do campo,
é a moda de viola da modernidade, a embolada dos jovens, é o samba, o maracatu,
e quando a responsa chega nas artes que se espalham pelas periferias, vemos
essa cultura impregnada, nos estilos de roupa, pela característica peculiar de avaliar
a política, de compreender a sociologia, de estabelecer diálogo entre o que é
cotidiano e subversivo, o neutro e o subjetivo, entre o conflito e a inércia
popular, o agir com responsabilidade, o respeito entre as diferentes culturas e
povos.
"Milhares de casas amontoadas, ruas de terra, esse é o morro a minha
área me espera, gritaria na feira, _ Vamo chegando! Pode crer! Eu gosto disso
mais calor humano. Na periferia a alegria é igual, é quase meio-dia e a euforia
é geral, é lá mora que meus irmãos e meus amigos, e a maioria por aqui se
parece comigo"
Racionais MCS
"Lembro de um período da minha juventude,
certo dia... ao ver uma van estacionada uns 200 metros do Marquês D'Latravéia, este
era um dos lugares que acontecia diversos shows na cidade de Maceió, do qual
por instinto, enquanto aguardava o inicio de uma apresentação do Racionais MC'S, deparei-me com o grupo esperando
o momento para entrar na casa, tive a oportunidade de conversar com o caras
pela janela da van, e a sensação foi inestimável, em seguida após tocar nas
mãos, felicitar uma boa apresentação, vi os caras descerem e invadirem o espaço
com uma habilidade diante do público, que estes sequer esperavam uma entrada
como aquela, da qual realmente pude entender; _Nem me viu, já sumi na neblina".
" A periferia que não se conhece como ente que vive as mazelas
sociais, não consegue criar sua identidade que vem sendo destituída e destruída
pelas elites. O território da memorialização é constituído do embate, no
conflito, na materialização de problematizar os patrimônios".
Humberto Fonsêca
Estou colocando a
periferia como tema central, pois a periferia é tudo que se expande dos centros
de qualquer cidade, são os meios que justificam os fins, onde as cidades em
constantes mudanças acabam encarcerando seus moradores em lugares impróprios,
pois a dignidade do cidadão se torna produto político em meio ao cenário do
qual estamos observando, sendo os produtores tanto das riquezas quanto das
pobrezas, e ainda sendo massacrados pelos estudiosos e sensacionalistas como os
culpados pelas atrocidades ferozes de homens corruptos.
O Brasil viveu no
período da "Revolta da Vacina",
a primeira revolução e construção política que se focou nas mudanças
arquitetônicas e urbanísticas, para encaminhar assim o que hoje chamamos de
periferia, ao constituir no estado do Rio de Janeiro uma limpeza social, ao devastar o centro, construir ruas e
prédios no estilo europeu, inspirados por londrinos e franceses, modificaram a
vivência dos moradores, estes com seus "cortiços",
muito bem detalhados em obras da literatura de época como a de Aluísio de Azevedo (1857-1913), podem
sintetizar as políticas de higienização, das péssimas condições de vida que
viviam as pessoas que ocupavam os centros urbanos no início do século XIX, revolta
esta pois, o povo não tinha conhecimento de que a vacina seria um bem contra as
doenças que assolavam a população naquele tempo, e até mesmo pela ineficiência
do governo que desejava fazer uma campanha de vacinação sem informação
concretas para a população. Com essas construções de prédios, palácios,
biblioteca nacional, teatros, e ruas ao estilo europeu, acabaram por fazer uma
das primeiras migrações do povo que vivia nos centros para os morros, criando
assim as primeiras favelas.
O hip hop mostra diante
do mundo a mesma vivência, os mesmos embates entre política, sociedade,
cultura, e luta de classes, uma arte que nasceu de ambientes degradantes, de
comunidades assoladas pela violência, por ambientes esquecidos dos poderes
públicos, temos até os dias de hoje a arte que ainda se resguarda de o
reconhecer como um instrumento multicultural e social através de seus agentes,
vemos homens e mulheres que tem suas vivências massacradas por períodos
consolidados na história da humanidade, onde o clássico e erudito no Brasil
pode ter como exemplo o estilo barroco por ser profano aos olhos dos cultos de
seu tempo, abriu espaço para as culturas populares, do mesmo modo, o hip hop
rasgou um período das gerações vindouras por estar intimamente ligada com o que
acontecia nas ruas, diante desses períodos é preciso esclarecer que a
acessibilidade de direitos e recursos da arte
que nasceu das tribos urbanas, onde a junção de várias vertentes,
unificaram um modo peculiar de mostrar através da criação humana modos de vida
que também retratam história, saberes, fazeres, e principalmente, um patrimônio
imaterial consolidado durante gerações.
Hoje podemos carregar nossa sonoridade por onde andamos,
recordo-me de períodos onde tínhamos que ouvir nosso sons com fitas cassetes, e
sair na rua com as ideias juntando essas metáforas, esses diálogos
contrastantes, subsídios de entendimentos, quando ainda entendíamos algumas frases,
reconhecíamos vivências e tipologias de seres que viviam as mesmas
desigualdades,
Como poeta que viveu
um dos ciclos mais produtivos da poesia marginal paulistana, um dos meus
maiores atritos entre amigos produtores e coletivos, sempre fora a de que; "nos importamos muito em produzir,
criar, apresentar, mais como seres humanos que nasceram e vivem nos escalões
subalternos, não temos a participação que merecíamos no espaço da memória, dos
registros, apesar de termos um avanço devido a globalização, suas redes,
acessibilidade a tecnologias, coisas que anos atrás eram de extrema
dificuldade, devemos observar que a nossa expansão demográfica ainda é
excludente", e que durante esses anos, a nossa luta por mais dinâmica,
limpa, clara, justa, digna, honesta, não conseguiu ir além de buscar acessibilidade,
parece que estamos de muletas, que não caminhamos ainda com as próprias pernas,
que ainda não abrimos os olhos para o nosso papel em exercer cidadania e
inteligência através da arte e da cultura.
Quantos lugares ainda
hoje continuam esquecidos pela falta de integração social, pois somos muito bem
lembrados de que somos representados pela política, (na hora do voto), porém na
realidade, o conceito de "defensoria
dos direitos e igualdade social, cultural, intelectual" não passam de
direitos que existem nos limites territoriais, temos fronteiras muito bem
delimitadas, direitos e deveres explicitados, mais ainda assim, esbarramos na
falta de justiça.
A arte, é uma maneira
de fazer justiça com as próprias mãos. Porém, não temos aqui sangue, pois as
minhas estão desde as primeiras horas trabalhando para o poder capitalista, e
agora mesmo revertendo todo este curso, pois, sou pago para produzir
conhecimento, mais o verdadeiro conhecimento é quando enriqueço meus semelhante
com algo que realmente, não está a
venda, nem é um protesto a meritocracia, pelo contrário, são as habilidades
exercidas para entendermos nossa situação, não é mais para compreender o poder
do qual já estamos marcados pela eternidade da história da humanidade.
Sinto informar leitor, que se hoje consigo
colocar aqui em escrito tudo que pensava dez anos atrás, foi porque tive que
perder algumas coisas para ganhar outras, tive que perder uma balada no sábado,
e ter o meu domingo de folga cansado, para simplesmente poder contextualizar o
que os nossos "doutores, menestréis,
bacharelados, licenciados", não conseguem explicar, por mais hora
aulas que tentem as coisas mais simples que poderiam abrir nossas mentes para o
debate digno, não o "debate injusto
e acadêmico militante de apelações passadas, petrificado de saberes enrugados",
tens aqui, o jovem brasileiro que sobreviveu
a tantas catástrofes quanto desgraças, não tive como fugir, se esconder, deixar
passar, foi preciso a luta de anos para aprender escrever e sintetizar
sentimentos, pensamentos, histórias, revoluções pessoais, pois, se não podemos
revolucionar o mundo, se não podemos fazer lavagem cerebral, se não podemos
perder tempo com tanta "balela como
me dizia meu irmão de letras MaicknucleaR", aqui está a história de
meu povo, de minhas culturas, das minhas artes, e a escrita, como ofício culto
e de entendimento, não merece respeito algum, apenas, e simplesmente, que
entendam a leitura.
Podem ter a certeza,
que assim como muitos tiveram chance de modificar o que está acontecendo, eu
vos digo que essa culpa não pode ser nossa, nunca tivemos a oportunidade de
mudar nada, e acredito plenamente, que se em algum momento essa digamos
"oportunidade", que nunca existiu, pois tudo tem sido construído com
muita consciência, trabalho, responsabilidade, não será simplesmente vendida,
maquiada, manipulada, degenerada, exemplificada, pois assim como lutamos para
estudar tudo que não gostamos, vocês também terão que se ajoelhar e rezar para
entender nossas origens, causas, sentimentos,
e dores das quais não mais sentimos, pois, tivemos que destruir e evoluir,
evoluir e destruir, essa é a sabedoria
em estado múltiplo, sem revolta, na simples prática de não seguir os erros que
foram aplicados pelos que se dizem
mestres.
"Vocês podem me
agredir intelectualmente, enquanto houver escrita, me defenderei prudentemente".
Humberto Fonseca
Ao olharmos os
ambientes, o meio que é modificado pelo homem, temos uma construção por mais ambígua,
devastadora, inconsciente que seja, podemos afirmar que foi feita pela necessidade
do homem com o trabalho para garantir as capacidades mínimas e necessárias para
a sobrevivência, se para as elites temos o que necessitamos, para os cultos e
promotores da sociologia, história, filosofia e literatos da historicidade
brasileira, ainda restam obstáculos dos quais vem sendo impostos todos os dias
para que não possamos inserir nos seus conceituados
mandamentos, a simplicidade e atitude que vem capacitando povos de uma geração
que foi relegada e negligenciada politicamente.
Por isso, e por
tantas outras frases este texto é importante, pela tradução deste período que
ainda parece uma imensidão a ser conquistada, temos a plena consciência de que estamos
fazendo nosso papel como agentes precursores de uma cultura, de um modo e
estilo de vida, de uma sociologia e divisão dos direitos, de que estamos construindo
também nossa história, de que estamos também filosofando nossos saberes, por
mais que não estejamos conseguindo politicamente as mudanças necessárias,
sabemos que o conceito de quem conhece e estimula a cultura e arte é para
exercer o papel transformador, para as mudanças pessoais existem os coachings,
os livros de auto ajuda, e para a constituição da história temos que ser
realizadores dos nossos conhecimentos, tanto na parte técnica como no campo de
atuação.
Estudando neste
momento o curso de licenciatura em Geografia, consigo entender as diferenças
regionais mais claras e até mesmo sintetizar as partes físicas desta ciência,
pois sempre fui do campo analítico, das diversidades, dos sensos que nos
desmoronam a cada publicação, dos índices que nos assolam, dos números que nos constrangem,
dos resultados que nunca satisfazem.
Possibilito assim uma
visão da atuação do hip hop como "método
artístico comparado de ação social", por ser local, nacional, e
mundial, por ter raízes e semelhanças independente dos idiomas, por ter
geograficamente se consolidado como uma cultura dos povos, das minorias, dos
pobres, dos excluídos, dos
artisticamente incorretos, pela forma de se vestir, falar, criar,, "sem
criticar de maneira alguma aqui, os milhares de rappers ricos", falo da
origem, da essência da cultura, de
sua "geologia
arquitetônica popular", que diante de todas as barreiras e limites
encontrados travou diante da humanidade uma luta justa, honesta, e que
prevalece para desenvolvimento dos saberes e fazeres de um povo.
Humberto Fonsêca
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