Quatorze De Julho...
Qual data pode significar diversos anos na sua memória? Seus dias? Sua vida? Quem não tem aquelas datas especiais? Seja de comemorar o niver, o início do romance, o fim de algum ciclo, ou uma trágica lembrança?
Lembro hoje da minha infância na casa da minha vó,
Ela morava bem próximo ao SESC, defronte a praça 13 de Maio, no bairro do Poço,
Para ser mais preciso,
Rua 14 de Julho,
Era onde passava as férias da escola,
Sair da parte alta pra parte baixa de Maceió já era uma aventura, viagem,
Da qual eu e meu amigo passava os dias revirando o histórico bairro de Jaraguá,
Por sinal este foi um dos melhores amigos, o Juninho,
Do qual anos mais tarde o reencontrei no Graciliano Ramos com o condinome de "Mascote".
Sempre que minha família passava por aperto, perreio, perrengues,
Estava eu a subir no ônibus da Piedade,
Iria em busca dela na casa da minha vó, ou qualquer palavra bonita que nos alimentasse,
Pois como era pequeno também não tinha que pagar passagem, no famoso "maião", pela fé iria eu,
Buscar algum alimento, feira, dinheiro,
Mulher que ajudou sempre,
Com tudo que tinha e não tinha.
Rua Quatorze de Julho, lugar indefinido,
Data que marcou desde o início,
Alguns muitos sofrimentos na vida,
Coragem para sobreviver adversidades,
Do bairro do Poço emergiam memórias físicas,
Tempos de criança onde a força da vida rompe intelectualismos,
Essa data escrita me assusta,
Pois fui acostumado quando gravei-a em numerais.
Quatorze de Julho,
Quatorze este que me lembrou,
A composição "Vinte Nove" da Legião Urbana,
Só agora escrevendo posso imaginar,
O que o autor passou ou passara.
Quatorze de julho,
Quatorze rompimentos nos nervos,
Quatorze ligamentos quebrados,
Quatorze derme, epiderme, endoderme,
Quatorze cartilagens destruídas,
Quatorze mais dez pontos na barriga,
Quatorze metros arremessado sobre um guidon,
Quatorze nano milímetros para sentir o impacto,
Quatorze segundos sem ar,
Quatorze milésimos para sentir uma dor hemorrágica,
Quatorze tempos para reabrir os olhos e ver o mundo que não era meu de cabeça pra baixo,
Quatorze milhões de dores,
Quatorze bilhões de neurônios em choque,
Para somente agora saber dos Quatorze sistemas do corpo humano,
Que ainda seguem sofrendo.
Quatorze de julho,
Lembrei da rua somente ao recordar a data na ala vermelha,
Ouvindo gritos dos outros como se fossem meus.
Ter estes olhos em serenidade, apaziguado,
Em meio a este mundo desordeiro,
Será lições que irei aprender,
Com algumas, muitas vidas,
Pois como disse minha mãe,
Quatorze, catorze, ou décimo quarto de julho,
É minha nova data de nascimento.
Engraçado o destino,
Complexo ao nos apresentar certos futuros,
Mesmo que não tenhamos tomado decisões,
A vida vira, muda, transfigura,
Como se ordens do universo,
Encontrassem a perfeição,
Independente do caos que nos causará,
Lembrei de Chico Science,
"Que eu me organizando, posso desorganizar, Que eu desorganizando, posso me organizar".
E pode ter certeza,
"Que além de um passo a frente, você não está mais no mesmo lugar",
Muito bem sabido foi escrito,
"Que um homem roubado nunca se engana".
Quem disse que não há milagres?
Que não existe fé em Deus?
De quantas provas precisa?
Pois, será que suportará um teste?
Quatorze de julho,
Quatorze metros cúbicos de lágrimas,
Quatorze léguas de coragem desmedida,
Quatorze estágios mentais desconhecidos,
Quatorze variantes de atitudes,
Quatorze mil comprimidos e injeções a tomar,
Quatorze hectares de uma essência incompreensível,
Quatorze minutos esperando o socorro, ou quase isso,
Quatorze toneladas suportando superações,
Quatorze zilhões de memórias desarquivadas,
Quatorze quilogramas de esperança se transformaram,
Quatorze vezes na velocidade da luz.
Quatorze, catorze ou décimo quarto,
Para vivenciar os tempos da Rua 14 de Julho,
Neste dia quatorze, catorze ou décimo quarto,
Sei que não existe eternidade ou possibilidade que não venha a ser quebrada,
Pois desde minha infância,
Já havia sido convidado,
Para suportar na intimidade meu fascículo de vida.
Humberto Fonsêca
Qual data pode significar diversos anos na sua memória? Seus dias? Sua vida? Quem não tem aquelas datas especiais? Seja de comemorar o niver, o início do romance, o fim de algum ciclo, ou uma trágica lembrança?
Lembro hoje da minha infância na casa da minha vó,
Ela morava bem próximo ao SESC, defronte a praça 13 de Maio, no bairro do Poço,
Para ser mais preciso,
Rua 14 de Julho,
Era onde passava as férias da escola,
Sair da parte alta pra parte baixa de Maceió já era uma aventura, viagem,
Da qual eu e meu amigo passava os dias revirando o histórico bairro de Jaraguá,
Por sinal este foi um dos melhores amigos, o Juninho,
Do qual anos mais tarde o reencontrei no Graciliano Ramos com o condinome de "Mascote".
Sempre que minha família passava por aperto, perreio, perrengues,
Estava eu a subir no ônibus da Piedade,
Iria em busca dela na casa da minha vó, ou qualquer palavra bonita que nos alimentasse,
Pois como era pequeno também não tinha que pagar passagem, no famoso "maião", pela fé iria eu,
Buscar algum alimento, feira, dinheiro,
Mulher que ajudou sempre,
Com tudo que tinha e não tinha.
Rua Quatorze de Julho, lugar indefinido,
Data que marcou desde o início,
Alguns muitos sofrimentos na vida,
Coragem para sobreviver adversidades,
Do bairro do Poço emergiam memórias físicas,
Tempos de criança onde a força da vida rompe intelectualismos,
Essa data escrita me assusta,
Pois fui acostumado quando gravei-a em numerais.
Quatorze de Julho,
Quatorze este que me lembrou,
A composição "Vinte Nove" da Legião Urbana,
Só agora escrevendo posso imaginar,
O que o autor passou ou passara.
Quatorze de julho,
Quatorze rompimentos nos nervos,
Quatorze ligamentos quebrados,
Quatorze derme, epiderme, endoderme,
Quatorze cartilagens destruídas,
Quatorze mais dez pontos na barriga,
Quatorze metros arremessado sobre um guidon,
Quatorze nano milímetros para sentir o impacto,
Quatorze segundos sem ar,
Quatorze milésimos para sentir uma dor hemorrágica,
Quatorze tempos para reabrir os olhos e ver o mundo que não era meu de cabeça pra baixo,
Quatorze milhões de dores,
Quatorze bilhões de neurônios em choque,
Para somente agora saber dos Quatorze sistemas do corpo humano,
Que ainda seguem sofrendo.
Quatorze de julho,
Lembrei da rua somente ao recordar a data na ala vermelha,
Ouvindo gritos dos outros como se fossem meus.
Ter estes olhos em serenidade, apaziguado,
Em meio a este mundo desordeiro,
Será lições que irei aprender,
Com algumas, muitas vidas,
Pois como disse minha mãe,
Quatorze, catorze, ou décimo quarto de julho,
É minha nova data de nascimento.
Engraçado o destino,
Complexo ao nos apresentar certos futuros,
Mesmo que não tenhamos tomado decisões,
A vida vira, muda, transfigura,
Como se ordens do universo,
Encontrassem a perfeição,
Independente do caos que nos causará,
Lembrei de Chico Science,
"Que eu me organizando, posso desorganizar, Que eu desorganizando, posso me organizar".
E pode ter certeza,
"Que além de um passo a frente, você não está mais no mesmo lugar",
Muito bem sabido foi escrito,
"Que um homem roubado nunca se engana".
Quem disse que não há milagres?
Que não existe fé em Deus?
De quantas provas precisa?
Pois, será que suportará um teste?
Quatorze de julho,
Quatorze metros cúbicos de lágrimas,
Quatorze léguas de coragem desmedida,
Quatorze estágios mentais desconhecidos,
Quatorze variantes de atitudes,
Quatorze mil comprimidos e injeções a tomar,
Quatorze hectares de uma essência incompreensível,
Quatorze minutos esperando o socorro, ou quase isso,
Quatorze toneladas suportando superações,
Quatorze zilhões de memórias desarquivadas,
Quatorze quilogramas de esperança se transformaram,
Quatorze vezes na velocidade da luz.
Quatorze, catorze ou décimo quarto,
Para vivenciar os tempos da Rua 14 de Julho,
Neste dia quatorze, catorze ou décimo quarto,
Sei que não existe eternidade ou possibilidade que não venha a ser quebrada,
Pois desde minha infância,
Já havia sido convidado,
Para suportar na intimidade meu fascículo de vida.
Humberto Fonsêca