domingo, 11 de fevereiro de 2018

Humberto Fonsêca - Quase Esqueci da Poesia Marginal




Quase Esqueci da Poesia Marginal


Verso atinado,
Andante ao destino,
Um voz circula o caminho.
Um caminho sem voz, sem dor, sem vida,
Um caminho do algoz, de quem sente e nada fala,
Um caminho onde muitos percorreram e caíram,
Um caminho onde poucos levantaram,
Um caminho sem pouso, onde sigo sozinho.
Larguei meus amigos, minha família, minha vida,
Pra tentar correr atrás de dinheiro e sossego,
Aí te pergunto... qual sossego dinheiro trás?
_ Só para quem muito tem, pouco deve, e vive atropelando os outros pra conseguir dormir em paz
Eu sei que a vida é feita de obstáculos,
Que existe a seleção natural dos elementos,
Mas já pulei todos,
E cruzei com os fraudulentos...
Por onde andam os verdadeiros?
Pessoas de valores, amigos de conselho,
Pra rir, chorar, e lembrar do que se vive e do que há de vir,
Para que mesmo chorar se ainda podemos sorrir?
A vida não é uma obrigação,
A vida não pode ser o tempo todo cheia de questões,
A poesia não tem que ser romântica, marginal, subversiva,
A nossa vida não é um controle remoto onde e quem quer que seja vai dizer nossa vontade.
Não vou me entregar aos desejos, luxuria, e toda soberba que essa gente vive para impor padrões e limites de uma liberdade multifacetada.
Nunca vi tanta dificuldade pra fazer o certo, nunca vi tanta facilidade pra fazer o errado, nunca vi tanta maldade, malícia, e soberba juntas em um só lugar
Estou começando a ver que eu estou no lugar errado, e que no meio da praga a bondade tem que ser morta.
Só que eu me lembro do gueto,
Das quebradas, das favelas, dos bairros pobres,
Village Campestre, Lucila Toledo, Denisson Menezes,
Graciliano Ramos, Jardim Brasil,
Por onde vivi, percorri, sobrevivi,
Com força da guerra em meio a paz da liberdade,
Onde não perdi meus instintos,
Tampouco inquietei-me perante as forças claras e ocultas.
A guerra me torna amplo,
Onde mudo de direção,
Mas sei quais são os flancos,
O álibi e força do inimigo,
Suas fraquezas, seus desejos,
Onde manifestam a voz do império,
Sabendo plenamente,
Que o maior orgulho deles...
É acabar com espírito dos que contra eles protestam.
Não quero parceria,
Não quero união,
Vim pra desunir o erro do sermão,
Guarde seus conselhos,
Enterro meus versos,
Vamos ao processo,
Já que pra morrer basta estar vivo,
Eu vi muito disso e pouco daquilo.
Sincero digo,
Tem coisas que não quero,
Muito prefiro a simplicidade,
Em paz, no simples ar que respiro.
A vida é nossa maior prisão,
Não tente escapar dela ou fazer fortalezas.
Quase esqueci da poesia marginal,
Minha voz, minha força, meu alento,
Onde quebro os grilhões,
Onde furo os olhos dos que me querem ver cego,
Pelo pouco sentido de vida,
Pela falta de amizade,
Para que viva de falsidade,
Como diz nas revista de surf,
É tudo LIFESTYLE,
Só tá faltando vida ao meio de tanto style
Quase, quase, quase,
Nossa, quase mesmo,
Como poderia saborear as vitórias e derrotas,
Se quando ganho me sinto forte,
E quando perco ainda mais sinto-me poderoso,
Quase, quase, quase,
Nossa, quase mesmo,
Quase esqueci da poesia marginal.
Humberto Fonseca

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