sexta-feira, 16 de março de 2018

"O Ouro da Lama Ao Caos"


Da Lama ao Caos é o primeiro álbum de estúdio da banda pernambucana Chico Science & Nação Zumbi, lançado em 1994. Considerado um verdadeiro clássico da música brasileira.


"Fazia muitos anos que ouvia Chico Science, mas estar vivendo no nordeste e reouvir suas músicas me traz uma energia tão positiva do cenário atual brasileiro, de que não estamos errados, de que não estamos incapacitados, de que não fomos ainda derrotados, de que não estamos gastos pelos excessos de descuidos e sabotagens, de que nunca estivemos tão perto e vendo tão perto da violência, do descaso do poder público, da ignorância nordestina em se "patriotizar" (se e que existe essa palavra), os dotôres, os coroné, políticos que são chamados de senhores por eternos baba-ovos de bancadas que nunca bancou nada a meu povo. 

 O descaso social, a imbecilidade pelo consumismo, a revolta musical de "brabreza", pois braveza só nos pampas ou nos fortes do sul, já que aqui viventes de "terra seca" temos a completa valorização das castas e dogmatismos enclausurados, mascarados, tudo feito por subordinação e valorização das políticas locais latifundiárias... 

 É o (bandidismo por pura maldade, bandidismo por uma questão de classe). 

 "Não estou chamando meu povo de burro, de ignorante", pelo contrário, temos na temática musical de um dos maiores expoentes nordestinos, e podemos observar, como a cultura fortificada nas raízes de sua população, são disseminadas na ótica da inferioridade, que o povo tem de reconhecer toda sua potencialidade.

 Chico Science hoje me faz reviver a adolescência onde apenas sentia os ritmos de coco, os folguedos, os reizados, as toadas nordestinas... esquecendo os efeitos, as misturas de ritmos, as batidas do mangue beat, essas sampleadas em beats estrondosos e instrumentos de cordas, percussão, as rimas de um rapper que muitos rappers ainda precisa adquirir uma "ritimologia absurda e incomparável" e tudo que havia de mais instigante para a música eletrônica, colagens, ligações com o passado e futuro musical de um povo do tipo; "sobe morro ladeira correndo beco favela, a polícia atrás dele e eles no rabo dela", (a cidade se encontra constituída por aqueles que usarem em busca de uma saída), e qual a saída se (a cidade não para, a cidade só cresce, o de cima sobe, e o de baixo desce), é invariável a tormenta das metrópoles, grandes, médias e pequenas cidades onde temos que "eu vou fazer uma embolada, um samba com maracatu, tudo bem envenenado, bom pra mim e bom pra tu, pra gente sair da lama e enfrentar os urubu"... O ser humano luta dia após dia esquecendo bravamente de como valorizar e principalmente resgatar seu passado pelas lentes do presente emancipando o futuro, foi assim que esse cara conseguiu nos permitir ter acesso a um nordeste clandestinamente aberta a todos os diálogos improváveis de um povo que sabe muito bem honrar sua dignidade, construir cidades, fortificar histórias, e nunca, nunca ter medo de resgatar suas origens".


Humberto Fonseca

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