quarta-feira, 26 de agosto de 2015

O Poeta Quer Falar - V - Poesia: Humberto Fonsêca

 
O Poeta Quer Falar - V



O poeta quer falar;
Da terra sem lei,
Que ele viveu, destruiu, e porém, a revê outra vez...

O poeta quer falar;
Dos insultos nela vivida,
Das palavras dos covardes em derrocada na partida,
Das vitórias que pareciam impossíveis mas foram obtidas.

O poeta quer falar;
Que as bocas se abrem sem mistério,
E o povo se vende a céu fechado e aberto.

O poeta quer falar;
Que não nos cabe frustração,
Pois sempre soube,
Que o povo prefere viver e se humilhar a corrupção.

O poeta quer falar;
Que muitos não têm força,
Porém sua força vem de seu próprio calcanhar.

O poeta quer falar;
Que pressente o perigo,
Que veste a roupa de sempre,
Pois pode mudar até mesmo seu sentido, mas não vai se enclausurar perante uma possível soberania.


O poeta quer falar;
Que os códigos foram decifrados,
Os espíritos se entregaram em seus próprios conluios criptografados,
E reúnem-se em todo lado, região,

O poeta quer falar;
De um possível brilho inimigo,
Mas sabe que na "Guerra da Arte",
É preciso mais que artistas, mais que autores, grafiteiros,
É preciso mais que cantores, rimadores, prosadores,
É preciso mais que cordéis, poemas, haicais,
É preciso organização, e dedicação,
Para arte enfim tornar-se longe de lisonjas e falcatruas.

O poeta quer falar;
Que a tanto não tem visto arte de verdade,
Mas a sua verdade de artista segue viva.

O poeta quer falar;
De que a guerra é verdadeira e se aproxima,
Que seu rap não confunde indicio com provas à paulatina,
Que segue determinado na batalha da vida.

O poeta quer falar;
Que não está para os benfeitores,
Pois onde o mal reina, sempre fora também seu terreno conhecido,
Pois muitos são poetas, poucos são poetas, muitos vão querer ser poeta,
Mas só mesmo quem é poeta sabe reconhecer um verdadeiro poeta.

O poeta quer falar;
Que viu seu clipe passar,
Que viu sua história virar,
Que viu seus tombos no ar,
Que viu seu sangue jorrar,
Que viu suas marcas a perfurar,
Que senti dores até não mais aguentar,
Que sofreu tudo quanto um ser humano poderia suportar,
Mas enfim, o poeta agora parece querer se armar para descontar.

O poeta quer falar;
Que não planejou momentos,
Não compartilhou tempos,
Não desmistificou sentimentos,
Não mostrou nada aos seus inimigos,
Além de desprezo, além da falta de conhecimento, além de não ter pretexto,
Além de sua força, de sua capacidade, sua interatividade, de seu poder com adversidade,
De sua capacidade de viver em meio a todo tipo de covarde,
Além de ser superior nos debates, pois não deve-se calar a sua verdade,
Pois assim como tudo na vida é mais que difícil e imperativo,
Mesmo que caminhe na terra do inimigo,
Pra derrubar um poeta verdadeiro é preciso mais que vontade,
É preciso mais que seriedade,
E antes de tudo,
Quando se olha na cara de um poeta marginal, deve-se ter coragem.

O poeta quer falar;
Que não vê brilho de esperança,
Que não acredita em mudança,
Que segue sozinho,
Pois os que poderiam ser diferentes,
Tornaram-se iguais a seguidores de crianças,
Baba-ovo dos sem esperanças,
Empregados dos mesmos de sempre que não merecem seu respeito tampouco confiança.

O poeta quer falar;
Das batalhas no mar,
Das batalhas na areia,
Das batalhas pelas cercanias das vidas alheias,
Das batalhas que foram sofridas,
Das batalhas na cidade,
Das batalhas nos campos,
Das batalhas nas estradas,
Das batalhas nos entraves,
Das batalhas que eles queiram ou não foram batalhas vencidas,
Das vitórias que muitos pensaram não serem as nossas teias.

O poeta quer falar;
Que é dia de confronto, e o jogo parece que vai começar.

O poeta quer falar;
Que não existe hora, momento, é em qualquer tempo,
Que não tem respaldo aos homens violentos,
E que não vai respeitar os opressores desse sistema mais que fraudulento.

O poeta quer falar;
Que se foram eles, são eles novamente,
Que não apenas descobriu, como sabe plenamente, que já derrotou-os várias vezes,
Porem por mudarem de time, lugar, cara, rosto,
Ainda não conseguiu gravar, deixar claro, fazer o parecer,
Porém, se vem do subconsciente, o poeta sabe que não é da mente,
Seguem com as mais estúpidas táticas de quererem lutar novamente..

O poeta quer falar;
Que se o passado persiste,
É porque o presente que desejam é diferente do que desenhamos,
Querem modificar o que desdenhamos,
Querem implantar o que nunca sonhamos,
Querem dizer quem somos sem que sejamos.

O poeta quer falar;
Que todos podem desistir, e não mais recomeçar,
Pois se nasceram para ser escorias, este poeta não deseja participar,
Só que se cair no caminho do poeta,
Este também vai ter que atropelar.

O poeta quer falar;
Fazer compreender, entender, questionar...

Pois o poeta sabe,
Que ser poeta é não ter nada pra falar.

Mesmo assim,
O poeta quer falar.




Humberto Fonseca

 

Nenhum comentário: