quinta-feira, 27 de agosto de 2015

O Poeta Quer Falar - VI - Poesia: Humberto Fonsêca

O Poeta Quer Falar - VI





O poeta quer falar;
Da brincadeira que parecia história,
Da história que parecia brincadeira...

O poeta quer falar;
Do sonho que era irreal,
Do sonho que tornou-se verdade.

O poeta que falar;
Das maculações que inventaram,
Das inverdade que suplicaram,
Das renúncias que fizeram,
Do sucesso que ofereceram,
Das cláusulas em mistérios,
Que abandonou um castelo,
Pra viver nas ruas e conhecer os desejos em sentir os seus próprios impérios.

O poeta quer falar;
Dos desejos que foram abandonados,
Do desejos que foram compartilhados,
Das carências necessárias,
Dos fatos envergonhados que o fizeram vencer essa história.

O poeta quer falar;
Da pancada da palavra,
Da paulada averbada,
Da cacetada fraseada,
Da voadora soneteada,
Da cambada versada,
Da lapada textual,
Da luvada poética,
Da fala trovada,
Da melodia gritada,
Da embolada cantigada,
Da sinergia em plectro,
Que teve que viver muito,
Pois teve que viver muito pra operar da janelinha,
E não pegou o bonde andando,
Conheceu nas entrelinhas,
O pegou com a poesia,
Quebrou divas, malacos, e divãs de muitas linhas.

O poeta quer falar;
Do espaldar, do caminhas, do lutar,
Do viver, do sonhar, do não se obrigar,
A constantemente ter que mudar,
Para os mesmos objetivos caminhar.

O poeta quer falar;
Das tretas, facetas, das rainhas e reis que se tornaram pernetas,
dos poderosos que se trancafiaram,
dos coitados que se levantaram,
Dos fracos antes oprimidos hoje revoltados,
Que não pode desistir de ser quem é,
Para mostrar o que seremos no futuro esperado.

O poeta quer falar;
Que carregou suas armas,
E nelas só tem palavras,
Armamento universal,
"Armamento Visual",
Cantos, rimas, poesias,
Prosas, versos, ideologias,
Guerrilha verbal da guerra fria.

O poeta quer falar;
Dos ataques pela direita,
Dos rolamentos pela esquerda,
Dos cruzados de primeira,
Da cabeçadas certeiras,
Das habilidades refeitas,
Das horas de treinamentos e incertezas,
Enfim, de ter esperado que na hora do mate ou morra,
Ao menos treinou com tudo que não tinha,
Adquiriu o que podia,
Vai bater forte sem perder a melodia.

O poeta quer falar;
Do ribombar das águas,
Da sensação de ter raio em palavra,
Da inusitada causa,
De entrar no campo desconhecido,
Pisotear no fundo e na palma,
Ao sentir o borbulhar das falas,
Por terem desacreditado dos quem se humilharam,
Para que Deus os ouvissem na hora de receber o quanto sonharam,
Enfim, dentro de suas preces, seus conhecimentos mestres,
Os fizeram espelhos de ilusão aos que os copiaram.

O poeta quer falar;
O poeta quer, quer, ele quer falar,
Que não é mais poeta, nem asceta, nem ódio, nem remessa,
É paulada no crânio, religião de malandro, quebrada obscura que nem os zômi andam...

O poeta quer falar;
O poeta quer, ele quer falar,
Ele vai dizer sem dizer adeus,
Ele vai falar somente com Deus,
O seu verdadeiro companheiro que o faz ser poeta sem ramelar.

O poeta quer falar;
Em meio ao silêncio,
Da ausência dos anêmicos,
Caladinhos de seus epicentros,
Assustados sobre o que não poderia ser possível,
Mas sofrem vendo...

O poeta quer falar;
Fazer compreender, entender, questionar...

Pois o poeta sabe,
Que ser poeta é não ter nada pra falar.

Mesmo assim.
O poeta quer falar.



Humberto Fonsêca

 

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