domingo, 22 de novembro de 2015

O Poeta Quer Falar - IX - Poesia: Humberto Fonsêca


O Poeta Quer Falar - IX

Graffiti - Rica de Lucca
 

O poeta quer falar;
Sem estética, na tática métrica,
Simbiose'ando,
Os efeitos dos dilemas,
Nas abstrações dos problemas.

O poeta quer falar;
Deste convite ao lugar,
Do caos no sol,
Rarefeito perfeito,
Sobre as secagens do tempo,
Mascando a ultravioleta do olhar.

O poeta quer falar;
Não do progresso,
Nem do sucesso,
Tampouco de seu regresso,
Desmascarando rupturas,
Simbologias, codificações.
Quebrando os tablados das alianças alheias,
Sobre as rajadas da palavras seminuas.

O poeta quer falar;
Deste mistério que é o egocentrismo,
Deste espetáculo que é a falta de empecilho,
Desta covardia que é a covardia sem sentido,
Desta falta de caráter que faz mascarar os perdidos,
Desta mesquinhas malditas vozes em círculos.

O poeta quer falar;
Na sua memorável trajetória,
Apunhalado pelas histórias,
Focado na concentração,
Nunca nas vitórias,
Sobre cada verso vivo e falado,
Dos causos que não foram esquecidos,
Tampouco apagados,
Pois diante de tanta filosofia de vida,
O que falta é o filósofo pensado.

O poeta quer falar;
Da maldição do ócio,
Na falta recreativa,
Obstina-se ao sensacionalismo,
Perdem-se na moda, no engano, na superficialidade,
Engajam-se nas trapaças, nas trocas, nas farsas,
Como se a vida de guerreiros estivessem em barracas sociológicas.

O poeta quer falar;
Que eles desejam entender,
O que nunca vão viver,
Que eles desejam saber,
O que não querem aprender,
O que não vão reconhecer,
Que desejam opinar o que nunca deveria ser questionado,
Que são malfadados por natureza,
Inescrupulosos por sapiência,
Obstinados contra a arte,
Enclausurados nos falsos juízos,
Diamantados de preciosos prejuízos,
Esvaziados de erros-errôneos-errados.

O poeta quer falar;
Desta funcionalidade obscura,
Desta saúde sem cura,
Nos olhares maliciosos,
Ambiciosos de tudo que pode e não pode,
Sorrateiros da sorte,
Soslaios dos capotes,
Caídos no chão da própria morte.

O poeta quer falar;
Deste silêncio prensado,
Dessas falas caladas,
Destes planos sem sentidos,
Destas iluminações sem cores,
Nas mais insalubres situações,
Percorrendo caminhos de fugas,
Sem lutar, procriar, insistir,
Criando a maldita covardia,
Em retranca retórica,
Dos viés sem avessos.

O poeta quer falar;
Que não se enganem amigos,
Eis o passadiço,
Os arcabouços, calabouços,
As pontes,
Grades, grilhões,
Falsas condenações,
Pois fomos liberto,
Por crer, servir e acreditar,
Que nossa revolta natural,
É a instância,
Nessa busca pelo respeito as leis,
As nossas próprias leis,
Quem for podre que se quebre,
Se foi pelo tempo,
Ou por mal sustento.

O poeta quer falar;
Que não vai se condicionar,
Não vai apadrinhar,
Tampouco ser apadrinhado,
Muito menos afilhado, afiliado,
Esculacho de partidários,
Escrúpulo de faccionados,
De qualquer que seja,
Quem quer que esteja,
Em algum momento,
Lutando contra sua contra-cultura,
Hoje, amanhã, depois...

O poeta quer falar;
Que sua mensagem,
Não é viagem,
Não é passagem,
Não é coragem,
Não é verdade,
Não é falsidade,
Não é nada do que pensam,
E muito mais do que pensam,
Sem contar que sua sabedoria,
Foi procriada ao meio de indiferenças.

O poeta quer falar;
Fazer compreender, entender, questionar...

Pois o poeta sabe,
Que ser poeta,
É não ter nada pra falar.

Mesmo assim,
O poeta quer falar.


Humberto Fonseca

 

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